'Concentração' de estrangeiros no comando de clubes do país pode ser a maior na história da Série A


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'Concentração' de estrangeiros no comando de clubes do país pode ser a maior na história da Série A

Treinadores portugueses seguem com moral, mas olhar para o mercado sul-americano continua a trazer esperanças para diretorias das equipes brasileiras. Entenda!

A presença de treinadores estrangeiros se tornou ainda mais avassaladora no futebol brasileiro neste início de 2022. Entre profissionais já consolidados a quem acabou de desembarcar no Brasil, oito clubes da Série A têm comandantes de outras nacionalidades (e pode chegar a nove caso o Botafogo concretize o acordo para a chegada de Luís Castro). O número supera o primeiro turno do Brasileirão de 2020, com seistreinadores de outra nacionalidade. 

FEITOS QUE ABREM FRONTEIRAS

Montagem - Jorge Jesus, Abel Ferreira e Juan Pablo Vojvoda
Jorge Jesus e Abel Ferreira, portugueses campeões pelo Flamengo, e Juan Pablo Vojvoda, que levou o Fortaleza à Libertadores (Fotos: Alexandre Vidal / Flamengo; Cesar Greco / Palmeiras; Leonardo Moreira / Fortaleza)

A ida de diretorias ao mercado em busca de técnicos de nova nacionalidade passa pela lembrança de nomes bem-sucedidos no futebol nacional. Mandatário do Fortaleza, Marcelo Paz apontou ao Apostas Online Brasil a esperança que ronda os clubes.

– Têm dois fatores. Primeiro, os resultados experessivos de Jorge Jesus e Abel Ferreira, três últimos campeões da Copa Libertadores com clubes brasileiros. Acho que o trabalho do Vojvoda (Juan Pablo Vojvoda, técnico do Fortaleza) também tem um impacto entre clubes menores do que esses – e destacou:

– As pessoas acreditam que a vinda de um estrangeiro pode trazer um resultado além de cultura de inovação tática, nova forma de enxergar o futebol, diferente daqui. Não necessariamente melhor, mas diferente – completou.  

Paulo Sousa - Botafogo x Flamengo
Paulo Sousa: o comandante do Flamengo é um dos portugueses que desembarcaram nesta temporada (Foto: Marcelo Cortes/Flamengo)

A porta foi reaberta aos portugueses graças às conquistas de Jorge Jesus no comando do Flamengo. Entre 2019 e 2020, o clube foi campeão do Brasileiro, da Copa Libertadores, Recopa Sul-Americana, Supercopa do Brasil e foi bicampeão carioca sob o comando do “Mister”.

Meses depois, o trabalho de Abel Ferreira ganhou projeção no Palmeiras e escancarou ainda mais o espaço para seus compatriotas. Sob seu comando, o Verdão foi campeão da Copa do Brasil, de duas Copas Libertadores e, na quarta-feira passada, conquistou pela primeira vez a Recopa Sul-Americana

Perante as credenciais de Jesus e Abel, outras equipes começaram a depositar fichas em treinadores oriundos da “Terrinha”. Após muitas negociações, o Rubro-Negro oficializou Paulo Sousa, que comandava a seleção da Polônia. O técnico agora tenta adequar a equipe carioca ao seu modelo de jogo.

Outro clube recorreu a um profissional de nacionalidade portuguesa. Após a saída de Sylvinho, o Corinthians anunciou a chegada deVítor Pereira, ex-treinador de Porto, Olympiacos e Fenerbahçe. Graças à chegada de Vítor ao Timão, o Brasil se tornou o país fora de Portugual com mais técnicos portugueses trabalhando em uma Série A.

Ainda há possibilidade de este número de lusos aumentar. O Botafogo está em transição para se tornar SAF e conta com um nome no radar para substituir Enderson Moreira: Luís Castro. No entanto, o Al Duhail (QAT) ainda faz jogo duro para liberar.

Coordenador acadêmico do curso de Gestão do Esporte da FGV/Fifa/Cies, Pedro Trengrouse contou o que contribui para a chegada técnicos de Portugal.

– A facilidade em relação à língua é um fator. O maior fluxo de jogadores de futebol no mundo também é entre Brasil e Portugal. É natural que seja assim com treinadores também. E, além de relações históricas e culturais, Brasil e Portugal assinaram um contrato chamado Estatuto da Igualdade, em comemoração aos 500 anos do descobrimento do Brasil. Graças a ele, portugueses no Brasil têm direitos equivalentes aos brasileiro e vice-versa – disse.

Trengrouse ponderou que a estruturação gradativa dos clubes também tem entusiasmado os técnicos. 

– Dificilmente clubes brasileiros conseguiriam atrair treinadores estrangeiros de primeira linha se não acreditassem na perspectiva de organização para desenvolvimento do futebol brasileiro – frisou.

VEIAS ABERTAS DA AMÉRICA LATINA

Trabalhando há uma semana com o elenco alvinegro, Antonio Mohamed foi apresentado oficialmente pelo Galo
Antonio “El Turco” Mohamed: o argentino foi campeão da Supercopa do Brasil logo no início de trabalho no Atlético-MG (Pedro Souza/Atlético-MG)

A perspicácia dos treinadores sul-americanos também é vista com bons olhos por dirigentes brasileiros. Após Cuca deixar o Atlético-MG, o clube trilhou por diversos caminhos, até chegar a um acordo com o argentino Antonio Mohamed. “El Turco” já garantiu seu primeiro troféu no Galo: o da Supercopa do Brasil. No entanto, o plano para a equipe campeã brasileira e da Copa do Brasil de 2021 são bem mais ambiciosos e incluem a Copa Libertadores. 

Dois de seus compatriotas prosseguem em solo tupiniquim, por terem alcançado objetivos diferentes. Juan Pablo Vojvoda levou o Fortaleza a uma inédita semifinal da Copa do Brasil e a uma histórica quarta colocação no Campeonato Brasileiro (se classificando pela primeira vez para a Copa Libertadores). O Coritiba conta novamente com Gustavo Morínigo, que garantiu o acesso da equipe à Série A de 2022.

Outro “hermano” também chegou recentemente com uma missão árdua. Após a demissão de Fábio Carille,Fabián Bustos terá a responsabilidade de aprumar o Santos para uma trajetória vitoriosa. Presidente do Fortaleza, Marcelo Paz exalta a presença de técnicos argentinos no Brasil.

– Eles agregam uma nova forma de enxergar futebol, têm uma escola diferente. Têm algo a trazer, a somar. O futebol argentino tem muitos treinadores espalhados na América do Sul, na Colômbia, no Chile… Estão acostumados à exportação e chegam com um pouco mais de força – disse.

Já o Internacional apostou na escola uruguaia neste início de temporada. Alexander Medina, porém, tem lidado com desafios no Gauchão.

– Ele ainda não conseguiu implementar nada. Está testando muita coisa. O time muda muito de um jogo para o outro e ainda não conseguiu jogar bem. O Inter conseguiu no máximo fazer primeiros tempos bons, mas cai sempre de rendimento no intervalo e, inclusive, sofre muitos gols. O objetivo do Medina é fazer um time propositivo e intenso, mas não vem conseguindo – disse o repórter Rodrigo Oliveira, da Rádio Gaúcha.

Apesar das idas e vindas, a nova “onda” é celebrada por quem lida com a rotina do futebol brasileiro de perto.

– O futebol brasilerio ganha. Nada contra os técnicos brasileiros. Há excelentes treinadores aqui, campeões com estudo, com inovação tática. Mas a mescla engrandece nosso produto – declarou o presidente do Fortaleza, Marcelo Paz. 

Entre ambições, desafios e dilemas, os estrangeiros que estão na Série A tentam se consolidar nesta temporada de 2022 do futebol nacional.


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